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Dezembro, 2008
Passo Fundo, RS

 

 

Introdução

A canola (Brassica napus L.) é uma cultura adaptada a climas temperados, de regiões com latitudes de 35 a 55 graus, pertencente à família das crucíferas, a mesma da couve e do repolho, do gênero Brassica. Mundialmente é a terceira oleaginosa mais produzida. No Brasil, as pesquisas foram iniciadas em 1974, com variedades de canola obtidas a partir do melhoramento genético convencional da colza (DAUN, 1983).

É uma planta que produz grãos com 24 a 27% de proteína e de 34 a 40% de óleo. Seu óleo é dos mais saudáveis, possuindo elevada quantidade de Ômega-3 (reduz triglicerídios e previne arteriosclerose), vitamina E (antioxidante que reduz radicais livres), gorduras mono-insaturadas (reduzem LDL) e o menor teor de gordura saturada (contribui para equilibrar o teor de colesterol sanguíneo) de todos os óleos vegetais. Suas folhas podem ser utilizadas na alimentação humana, seu farelo (34 a 38% de proteínas) pode ser fornecido aos animais, sendo um excelente suplemento protéico na formulação de rações para bovinos, suínos, ovinos, aves e peixes (SORREL & SHURSON, 1990; BELL, 1993).

Por ser uma crucífera contribui para a redução da ocorrência de doenças nas culturas subseqüentes, principalmente nos cultivos de gramíneas semeadas no ano seguinte, aumentando a qualidade, a produtividade e minimizando os custos (TOMM, 2000a). Isto decorre do fato de não ser hospedeira da maioria das doenças e pragas que ocorrem em espécies gramíneas e leguminosas.

Para crescimento e desenvolvimento, a canola requer pelo menos 500 mm de água, clima frio e de elevada luminosidade. Portanto, deve ser semeada preferencialmente no período entre o outono e primavera e, nas regiões tropicais, em altitudes superiores a 600 metros de altitude para que as temperaturas, especialmente as noturnas, sejam mais amenas (TOMM, 2006). Quanto ao solo, ela pode ser cultivada em vários tipos, exceto em solos alagados. Porém seu melhor desenvolvimento ocorre em solos francos, de média e alta fertilidade e bem drenados (TOMM, 2000b). A canola é apreciada em região onde, com freqüência ocorrem condições adversas para o desenvolvimento de outras culturas, como estiagem no período da semeadura (RIZZATTIAVILA, 2007).

O óleo extraído da canola possui alto valor industrial e econômico, empregado como óleo comestível, e também como matéria-prima para a produção de biodiesel (SCHUCHARDT et al., 1998), o mais usado na Europa, constituindo mais uma alternativa para a agricultura brasileira. O farelo de canola é empregado como fonte protéica para a produção animal.

Esta alternativa para diversificação de cultivos e para geração de emprego, de renda e de matéria-prima, a exemplo do que ocorre na região Sul do Brasil (BAIER & ROMAN, 1992), indica a relevância em avaliar a viabilidade de cultivo e conseqüentes benefícios para a região Nordeste do Brasil. A viabilização do cultivo de canola poderá desempenhar papel social e econômico de grande importância, para os agricultores, que pretendem diversificar sua produção durante o período das chuvas. O principal investimento para cultivo de canola são os esforços para aprendizado e ajuste regional das tecnologias de manejo da cultura, tendo em vista a ampla adaptação e plasticidade observados nos novos híbridos de alta qualidade e tecnologia empregados no Brasil. A isto se soma a vantagem do cultivo de canola necessitar de baixo investimento em defensivos agrícolas, comparativamente com as demais espécies empregadas na produção de grãos.

O cultivo da cana-de-açúcar constituía a principal atividade econômica na maioria das propriedades da região do Nordeste paraibano e foi abandonado em função de sua menor competitividade, comparativamente com outras regiões que dispõe de áreas de cultivo maiores e custos de produção menores. Como a agricultura é a principal atividade econômica e base de subsistência de vasta população rural, é necessário buscar novas alternativas de incremento de renda adequada às demandas e à conjuntura atual de elevada demanda e preço de alimentos e combustíveis. Por outro lado, é grande o interesse em identificar e desenvolver culturas alternativas para a microrregião chuvosa do Estado da Paraíba, região que apresenta período com a concentração de chuvas nos meses de maio a agosto e altitude de aproximadamente 600 m, com relevo ondulado, e algumas áreas planas. Experimentos de campo são necessários para avaliar se o cultivo de canola pode constituir uma opção viável para a região do Nordeste paraibano (Fig. 1). No nordesta da Paraíba o período de chuvas geralmente inicia entre 25 de abril e o início do mês de maio e encerra entre o fim do mês de julho e o início de agosto. As temperaturas ficam mais amenas com a ocorrência de chuvas e variam entre 15 e 22°C, clima classificado, segundo Köppen como tipo AS’ (quente e úmido) com estação chuvosa no período outono – inverno (BRASIL, 1972). A umidade relativa do ar varia entre 75%, em novembro, a 87% nos meses de junho-julho, a precipitação pluviométrica anual média aproximadamente 1300 mm. Mais de 75% das chuvas estão concentradas nos meses de março a agosto, com um período de menor intensidade de precipitação que inicia em setembro, prolongando-se até fevereiro (GONDIM & FERNANDES, 1980).

O objetivo deste trabalho, de caráter exploratório, foi verificar se a região Nordeste da Paraíba, em latitude muito inferior aquela das regiões tradicionais de cultivo de canola, se encontra dentro do limite de adaptação para cultivo de canola. Eventualmente, também identificar genótipos com maior potencial para cultivo com base em avaliações de ciclo, desenvolvimento de plantas e produtividade.


 

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