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Dezembro, 2008
Passo Fundo, RS

 

Introdução

A mancha amarela, causada por Pyrenophora tritici-repentis, (anamorfo: Drechslera tritici-repentis) é uma das mais importantes doenças do trigo. O patógeno é um fungo necrotrófico, que é capaz de sobreviver entre uma safra e outra nos restos culturais deixados sobre o solo, em função do sistema de plantio direto. Neste período, estruturas provenientes de reprodução sexual, pseudotécios, são formados. Com a maturação destes, ocorre a liberação de ascosporos, os quais são capazes de infectar novas plantas logo no início de sua emergência. Em seguida, se não for controlada, e se as condições climáticas forem favoráveis (ocorrência de chuva e vento), a doença progride e infecções secundárias se multiplicam entre as plantas na lavoura. Fatores como umidade, temperatura, luz, idade da planta, posição da folha, genótipo do hospedeiro e virulência do isolado são variáveis que contribuem para a quantidade de inóculo a ser produzida e consequentemente na severidade da doença (COX & HOSFORD, 1987; CIUFFETTI & TUORI, 1999; PRESTES, 2002).

Para controle da doença, recomenda-se rotação de culturas, com o objetivo de reduzir o inóculo primário presente nos restos culturais. Tratamento da parte aérea com fungicidas é também uma estratégia recomendada e muito utilizada, porém, dependente de condições climáticas; pois justamente em períodos chuvosos, quando a doença se torna mais grave, o controle se torna mais difícil, pois não é possível a entrada de máquinas na lavoura. Um terceiro método de controle, muito buscado no melhoramento de plantas para diversos patógenos é o uso de cultivares resistentes. Para mancha amarela do trigo não há no mercado cultivares com alto nível de resistência. Por ser uma característica governada por vários genes, embora a busca por resistência seja de grande interesse aos melhoristas, isto requer uma busca constante de boas fontes de resistência e de métodos eficientes de introgressão de genes de interesse, além de ser necessário evitar que estes sejam perdidos por deriva durante o processo de melhoramento para as demais características de interesse (SINGH et al., 2006).

Entre os diversos fatores que compõem a resistência do trigo à mancha amarela, estão genes que governam características de sensibilidade a toxinas do patógeno, que são responsáveis por sintomas de necrose e clorose durante a infecção pelo fungo no tecido vegetal, conhecidas como toxinas seletivas ao hospedeiro (HST). Alguns desses genes já estão mapeados nos cromossomos de trigo, havendo disponível marcadores moleculares bastante próximos a eles, podendo assim serem utilizados como ferramenta molecular na seleção assistida de plantas com maior nível de resistência (CIUFFETTI et al., 1997; EFFERTZ et al., 2002).

Das toxinas do patógeno, as mais bem caracterizadas são PtrToxA, PtrToxB e PtrToxC. A primeira é responsável pelo sintoma de necrose e as demais por sintomas de clorose. Em função dos sintomas produzidos por estas toxinas em cultivares de trigo diferenciadoras (Glenlea, 6B365, Salamouni, Katepwa e ND495) é possível agrupar isolados do fungo em até oito raças (LAMARI et al., 2003; SANTANA & FRIESEN, 2007).

A caracterização do patógeno, por meio de identificação de raças, distribuição geográfica destas e análise do nível de diversidade genética da população do fungo, por meio de marcadores moleculares específicos, são premissas necessárias no processo de melhoramento genético de plantas com o objetivo de introgredir genes de resistência eficazes (FRIESEN et al., 2005; SANTANA & FRIESEN, 2007).

Este manuscrito objetiva apresentar os resultados parciais de identificação de raças obtidos de isolados de P. tritici-repentis coletados entre 2007 e 2008 nas principais áreas produtoras de trigo no Brasil.


 

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