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Dezembro, 2008
Passo Fundo, RS

 

Introdução

-“O que esperar para o triticale?”, -“Seria isso um sonho?”, essas questões têm sido formuladas freqüentemente. O triticale passou de simples curiosidade científica, a um novo cereal de cultivo viável no curso de apenas poucas décadas. Resultante do cruzamento entre trigo e centeio, o triticale agregou boas qualidades oriundas dessas duas espécies.

O triticale foi introduzido no Brasil em 1961 e o primeiro cultivo comercial ocorreu em 1982, a partir de então a área cultivada aumentou substancialmente, ultrapassando os 130 mil hectares em 2004 (Nascimento Junior et al., 2005). Maiores incrementos ocorreram nos estados de São Paulo e no norte do Paraná, devido a melhor adaptabilidade do triticale ao estresse hídrico, a solos ácidos e ao menor custo de produção, quando comparado a outros cereais. Nesses locais, o grão colhido tem superior qualidade e a farinha é utilizada em mesclas com farinha de trigo, para a fabricação de biscoitos e massas para usos diversos, além da formulação de rações para suínos e aves, permitindo ao produtor obter valores próximos àqueles recebidos pela venda de trigo.

Em 2008 foram cultivados pouco mais de dois mil hectares em Minas Gerais, configurando um marco de busca de alternativas de sucessão e de rotação aos sistemas de produção que têm na soja, no milho, no feijão, no arroz e no algodão a base da sustentabilidade.

Nessa região, através da correção de solo, normalmente realizada para as culturas tradicionais, o triticale encontra condições de fertilidade com pluviosidade suficientes para completar o ciclo, com menor custo de produção e benefícios diretos para o agricultor pela venda do grão à moinhos da região, ávidos por farinha com menor força de glúten e com a qualidade da farinha de triticale.

A farinha é utilizada para compor misturas ou “blends”, para produtos específicos, a fim de melhor adequar a farinha nos diversos processos industriais, como a produção de massas alimentícias, biscoitos e bolachas, reduzindo, com isso, alguns custos de produção. Nascimento Junior et al. (2004) evidenciaram que a utilização de farinha de triticale em mistura com farinha de trigo é estratégia para o país, objetivando a redução de perdas com divisas e dependência do trigo importado.

A região centro-oeste poderá ser o grande celeiro de trigo, de triticale e de outros cereais, originalmente de clima frio, de modo a balizar a balança comercial positivamente para esses produtos no Brasil.

Para os cerrados do Brasil Central as cultivares devem ser adaptadas, apresentar elevado potencial de rendimento, serem suficientemente precoces para diminuir a incidência de doenças de espiga e permitir colheita antecipada, favorecendo a cultura posterior, normalmente a soja ou o milho, na expressão de todo potencial agronômico. Para a principal doença de espiga, tanto no sudeste quanto no centro-oeste brasileiro, a brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea (Cooke) Sacc. [teleom. Magnaporthe grisea (Hebert) Barr.], o principal método de controle é a evasão, na qual semeia-se o triticale no final do período indicado para o trigo em sequeiro ou após esse, tem sido largamente utilizado no estado de São Paulo.

Mesmo sujeitando o cultivo ao risco de ocorrência de estiagem severa durante o espigamento e/ou floração, a prática de evasão, prejudica o desenvolvimento da doença. Esse método de controle é possível devido a capacidade das raízes do triticale explorar o solo, mesmo em condições elevadas de acidez, melhorado a absorção de água e de nutrientes pelas plantas.

A contribuição do triticale vai além do uso do grão, da farinha ou do produto final. A palha produzida (raízes, colmos, folhas e espigas) é verdadeira “poupança” para a terra, proporcionando melhorias de fertilidade, da vida microbiana, da água do solo, com redução dos efeitos nocivos da erosão. Poucas espécies conseguem efetivamente crescer e desenvolver em condições marginais de déficit hídrico e elevada acidez como o triticale, retornando com benefícios econômicos.

Visando atender as exigências mínimas para cultivo, procurou-se identificar genótipos de triticale com melhor adaptação à região do Brasil Central, estimando o potencial de rendimento de grãos dessa cultura em condições locais.


 

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