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Novembro, 2008
Passo Fundo, RS

Resultados e discussão

As tabelas 1 e 2 expõem os dados relativos à distribuição da massa de raízes do milho consorciado com braquiária e aos atributos físicos e químicos do solo ao longo das camadas amostradas.

A massa de raízes diferiu, estatisticamente, entre os tratamentos, apenas na camada de 0 a 5 cm de profundidade (Tabela 1). Nessa camada, a massa de raízes do tratamento milho consorciado com braquiária (4,62 g 1.000 cm-3) foi 61% superior a do tratamento milho solteiro (2,81 g 1.000 cm-3), indicando a contribuição da braquiária na massa total de raízes.

Independentemente do tratamento, 89% das raízes coletadas concentraram-se na camada de 0 a 5 cm de profundidade, ou seja, esta camada apresentou, em ambos os tratamentos, massa de raízes, estatisticamente, superior as demais camadas (Tabela 1). Esses resultados demonstram que, tanto as raízes do milho, como as da braquiária, apresentaram desenvolvimento limitado nas camadas de 5 a 22 cm e de 22 a 30 cm de profundidade, indicando presença de fatores restritivos ao crescimento pleno das raízes. As causas dessa restrição ao desenvolvimento radicular do milho e da braquiária podem ser atribuídas, fundamentalmente, à estrutura física do solo (Tabela 1), pois, os atributos químicos, pH, alumínio, cálcio, magnésio e fósforo não apresentaram diferença significativa entre as camadas 0 a 5 cm e 5 a 22 cm de profundidade (Tabela 2). Embora o potássio tenha apresentado diferença significativa entre as camadas 0 a 5 cm e 5 a 22 cm, o teor observado nestas camadas é superior ao nível crítico (Sociedade, 2004), não inferindo, portanto, possível restrição ao desenvolvimento radicular. O teor de matéria orgânica, que diminui, estatisticamente, com a profundidade, parece ser muito mais efeito da distribuição do sistema radicular ao longo do tempo, do que causa de restrição ao desenvolvimento radicular das espécies avaliadas.

Entre os atributos físicos limitantes ao desenvolvimento das raízes do milho e da braquiária, destacam-se: a densidade do solo que, na camada de 5 a 22 cm, foi 28% superior a da camada de 0 a 5 cm; a porosidade total que, na camada de 5 a 22 cm, foi cerca de 20% menor do que na camada de 0 a 5 cm; e, principalmente, a macroporosidade que, na camada de 5 a 22 cm, foi, em média, 62% inferior a da camada de 0 a 5 cm. A magnitude dos dados de densidade do solo, porosidade total e macroporosidade evidencia, independentemente dos tratamentos, significativa degradação do solo na camada de 5 a 22 cm de profundidade, principalmente em relação à camada de 0 a 5 cm.

Os dados gerados, portanto, denotam que, os atributos físicos e químicos do solo, não foram influenciados pelo cultivo da braquiária em consórcio com milho (tabelas 1 e 2). Esses atributos, de modo similar ao observado com a distribuição da massa de raízes, inferem nítida estratificação estrutural do solo ao longo das camadas amostradas. Essa percepção é comprovada pela diferenciação estatística dos atributos avaliados, à exceção do pH, entre as três camadas de solo amostradas, tanto no tratamento milho consorciado como no tratamento milho solteiro.

Crusciol et al. (2007) também não encontraram diferenças do cultivo de milho solteiro e consorciado com braquiária sobre a densidade do solo, em estudo de curta duração. Considerando que a macroporosidade interfere diretamente na resistência mecânica do solo à penetração de raízes e que o valor crítico para esse atributo é da ordem de 0,10 m3 m-3 (Tormena et al., 1998), os dados gerados demonstram que apenas a camada de 0 a 5 cm de profundidade não apresenta limitações ao pleno desenvolvimento radicular das plantas.

A interpretação desses resultados infere que o período da amostragem do solo para análise de atributos físicos tenha sido muito precoce em relação à manifestação dos esperados efeitos benéficos à estrutura do solo, resultantes do processo de mineralização das raízes, pois, indubitavelmente, a intensificação e diversificação de espécies implica no aumento do aporte de material orgânico e na melhoria da estrutura do solo (Conceição et al., 2005).

A Tabela 3 expõe os dados relativos ao rendimento de grãos de milho solteiro e milho consorciado com braquiária e de fitomassa da parte aérea da braquiária, nas safras agrícolas 2005/2006, 2006/2007 e 2007/2008. Os dados demonstraram que o rendimento de grãos de milho não diferiu estatisticamente entre os tratamentos, nas três safras avaliadas. A variação de rendimento observada entre as safras, provavelmente, decorreu das oscilações da quantidade e distribuição pluvial observadas. Enquanto na safra 2005/2006 a precipitação pluvial foi de 628,3 mm, com déficit hídrico no mês de dezembro, e na safra 2007/2008 foi de 767,9 mm, com déficit hídrico no mês de janeiro, na safra 2006/2007 a precipitação pluvial foi de 1004,4 mm, com valores mensais nunca inferiores a 106 mm. É possível deduzir dos resultados obtidos que a braquiária, independentemente da condição de precipitação pluvial, não interferiu no rendimento de grãos de milho. Resultados semelhantes foram obtidos por Borghi & Crusciol (2007) que, na média de duas safras, não encontraram diferença no rendimento de grãos de milho, quando da inserção da braquiária em consórcio.

Na Tabela 3, observa-se que, embora a produção de matéria seca de braquiária seja, relativamente, baixa, é similar à obtida por Jakelaitis et al. (2005). Outros estudos indicam que a produção de matéria seca de braquiária é superior quando em cultivo solteiro (Jakelaitis et al., 2005; Ceccon, 2008), mas o consórcio pode resultar em maior rendimento de matéria seca do que braquiária ou milho em cultivos solteiros (Ceccon, 2008).

Os resultados obtidos sugerem que a consorciação milho-braquiária contribuiu para o incremento de fitomassa aérea e de raízes ao solo e, principalmente, não interferiu no rendimento de milho. No entanto, a melhoria da estrutura do solo, expressa pela porosidade e densidade do solo, não foi evidenciada, possivelmente devido ao curto período decorrido da implementação do consórcio milho-braquiária.



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