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Novembro, 2008
Passo Fundo, RS

Resultados e discussão

Nos ensaios E1 e E3, sem e com presença da prática conservacionista vertical mulching, respectivamente, contrastando os resultados de T1 com os de T2, nota-se que houve diferença significativa para todos os parâmetros avaliados, indicando enriquecimento de sedimento (Tabela 1). No ensaio E1, o coeficiente de variação dos parâmetros avaliados oscila de 5,90%, para pH em água, a 56,03%, para alumínio trocável e, no ensaio E2, de 6,40% a 62,68%, respectivamente, para os mesmos parâmetros. Essa amplitude do coeficiente de variação, possivelmente, decorre de o estudo constituir um levantamento de dados, contemplando lavouras com diferentes tipos de solo e níveis de fertilidade, submetidas a variados modelos de produção e eventos pluviais. Entretanto, diferenças significativas entre T1 e T2, em todos os parâmetros avaliados, diante de coeficientes de variação dessa magnitude, certamente decorre do fato de o enriquecimento de sedimento ser um processo presente em todos os locais estudados.

Entre os parâmetros avaliados, o P disponível, o K trocável e a matéria orgânica destacam-se como os maiores enriquecedores de sedimento. No E1, os valores absolutos de P disponível, K trocável e matéria orgânica são, respectivamente, 3,55, 3,79 e 2,08 vezes maior nos sedimentos (T2) do que nas lavouras que os geraram (T1) e, no E2, esses valores, em menor magnitude, são, respectivamente, 2,96, 2,40 e 1,83. O Al trocável, nos sedimentos (T2), que é 17 e 7,25 vezes menor do que nas lavouras (T1), respectivamente para E1 e E3, destaca-se como o parâmetro de maior diferença entre os tratamentos, embora os valores absolutos sejam considerados irrelevantes do ponto de vista da fertilidade do solo. A menor concentração de Al trocável nos sedimentos (T2) em relação às áreas de lavoura (T1), em E1 e E3, pode ser justificada pelo transporte preferencial de partículas de calcário de menor diâmetro e, conseqüentemente, de maior reatividade, presentes na superfície do solo, em razão da técnica da calagem sem incorporação do corretivo ao solo. As maiores concentrações de P disponível e de K trocável observadas nos sedimentos (T2), nos ensaios E1 e E3, possivelmente, decorrem da adubação a lanço, comumente praticada em sistema plantio direto. O maior nível de matéria orgânica no T2 em relação ao T1, certamente é resultante da menor densidade deste material em relação às partículas de solo, tendo, por isto, transporte preferencial pela enxurrada.

Esses dados permitem inferir que, em lavouras sob sistema plantio direto, a erosão hídrica promove arraste de corretivos, fertilizantes e matéria orgânica, presentes na camada superficial do solo, gerando sedimento enriquecido, que além de representar prejuízo econômico ao sistema agrícola produtivo, pode constituir fator de poluição ambiental.

Contrastando a magnitude de variação, em valores absolutos, de todos os parâmetros avaliados em E1 e E3, com destaque para P disponível, K trocável e matéria orgânica, percebe-se que o vertical mulching reduz o grau de enriquecimento dos sedimentos por reduzir a energia erosiva da enxurrada ao seccionar e diminuir o comprimento de rampa. Ao contrário das lavouras manejadas sob sistema plantio direto, sem práticas mecânicas para manejo de enxurrada, ensaio E1, que permitem o carreamento de sedimentos enriquecidos para fora da lavoura, o vertical mulching retém os sedimentos nos sulcos, prevenindo possível contaminação ambiental, principalmente, de mananciais de superfície. Em adição, o vertical mulching demonstra potencial para mitigar perdas por erosão em relação às lavouras sem práticas mecânicas para manejo de enxurrada, ao exibir, para P disponível, K trocável e matéria orgânica, redução dos índices de enriquecimento dos sedimentos.

Quanto ao E2, denota-se que o contraste entre T1 e T2 é significativo apenas para P disponível e K trocável, e que os índices de enriquecimento dos sedimentos são próximos da unidade ou, na maioria das vezes, menores do que um. Dos dois parâmetros com diferença significativa entre T1 e T2, o teor de P disponível é menor no T2 que no T1. Essa constatação infere ausência de erosão hídrica na área de lavoura à montante do terraço. A diferença significativa observada para K trocável, com maior teor no T2 que no T1, possivelmente está associada à mobilidade deste elemento que, ao ser lavado das plantas pelas chuvas no fim do ciclo das culturas, é transportado para o canal do terraço em solução no deflúvio superficial, porém sem energia erosiva.

Comparando os resultados gerados nos três ensaios, pode-se inferir que o terraceamento é a prática mecânica de maior eficácia para minimizar os efeitos danosos da erosão hídrica. Contudo, pode-se inferir que a prática conservacionista vertical mulching demonstra potencial para mitigar perdas decorrentes da erosão hídrica e prevenir o carreamento de sedimentos para fora da lavoura.



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