53

Novembro, 2008
Passo Fundo, RS

Introdução

Na região subtropical do Brasil, em razão das características pluviométricas, em qualquer época do ano há probabilidade de ocorrência de precipitação com potencial para gerar enxurrada, independentemente do tipo de uso e manejo de solo. A cobertura de solo pode dissipar até 100% a energia cinética da chuva, mas não manifesta esta mesma eficácia para dissipar a energia cisalhante da enxurrada. A partir de determinado comprimento de rampa, a energia cisalhante da enxurrada pode superar a tensão crítica de cisalhamento da cobertura de solo e permitir o transporte de restos culturais, bem como produzir erosão hídrica sob a cobertura (Bertol et al., 1996; Denardin et al., 2005).

O sistema plantio direto, que na atualidade representa o manejo conservacionista de solo em maior adoção no País, não tem sido adotado na plenitude conceitual que o expressa como ferramenta da agricultura conservacionista (Denardin et al., 2004). A partir de observações empíricas divulgadas por Martin (1985), foi disseminada a percepção de que a cobertura de solo e a ausência de preparo do solo são suficientes para controlar a erosão hídrica. Em decorrência, os terraços foram desfeitos e a semeadura passou a ser praticada paralelamente ao maior comprimento da gleba, independentemente do sentido do declive. Como resultado dessas atitudes, tem sido notado que a adoção parcial das práticas mecânicas requeridas pelas condições edafoclimáticas da região subtropical do Brasil, para controle da erosão, não têm propiciado condição suficiente para conter o potencial erosivo de chuvas intensas. A associação de práticas mecânicas ao sistema plantio direto, com eficácia para impor barreira física ao escoamento da enxurrada assume relevância, em topossequências configuradas por declives acentuados e pendentes longas. Dentre essas práticas, o vertical mulching assume relevância, com potencial de utilização na região subtropical do Brasil (Denardin et al., 2005).

A ocorrência de enxurrada em lavouras, invariavelmente resulta na perda de agroquímicos e em possíveis prejuízos de ordem econômica e ambiental. O transporte de corretivos, fertilizantes, partículas de solo e material orgânico pode implicar em poluição de mananciais de superfície, redução do tempo de concentração de bacias hidrográficas, redução do volume de água armazenada no solo e redução da recarga de aqüíferos subterrâneos (Schick et al., 2000; Dalla Costa, 2004). Nesse contexto, toda prática conservacionista capaz de manter o comprimento de rampa restrito a limites em que a cobertura de solo não perca eficácia na dissipação da energia cisalhante da enxurrada, contribuirá para minimizar a erosão e os problemas decorrentes (Bertol et al., 1996; Denardin et al., 2005). Assim, ações orientadas à adoção de práticas mecânicas, como meio para o efetivo controle da erosão hídrica são, sem dúvida, de relevância para subsidiar a qualificação do sistema plantio direto e a sustentabilidade agrícola.

O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência do vertical mulching no manejo de enxurrada em lavouras sob sistema plantio direto, através da quantificação do índice de enriquecimento químico de sedimentos.



Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento Online 53 Publicações OnlinePublicações Online