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Agosto, 2007
Passo Fundo, RS

Resultados e discussão

Evolução da área colhida, quantidade produzida e produtividade

A área colhida de cevada no Brasil tem aumentado nos últimos trinta anos (Tabela 1). De uma área colhida média anual de 86,8 mil hectares no período 1975-84 passamos para uma área colhida média anual de 125,8 mil hectares no período 1995-03. O expressivo aumento de rendimento de grãos observado neste período, de 1.100 kg/ha (média no período 1975-84) para 2.180 kg/ha (média no período 1995-2003), aliado ao aumento de área colhida resultaram em aumento expressivo na quantidade produzida no país. De uma quantidade média produzida de 90,9 mil toneladas no período de 1975-84 observamos um aumento expressivo na quantidade média produzida de 275,6 mil toneladas no período 1995-2003. A taxa média de crescimento anual de área colhida e de quantidade produzida foi de 11,1% a.a. e de 19,1% a.a., respectivamente, no período de 1995-2003.

Em 1975, aproximadamente 70% das microrregiões apresentaram área de cultivo entre 1 a 500 ha/microrregião (Tabela 2). Em 1985, 31,4% e 27,5% das microrregiões registraram cultivo de 100-500 ha/microrregião e 1.000-5.000 ha/microrregião, respectivamente. Em 1995, houve uma distribuição homogênea entre as faixas 1-100, 100-500, 500-1000 e 1000-5000. Em 2003, as faixas com maior freqüência de microrregiões foram as de 1-100 e 1.000-5000. De maneira geral, observa-se que nos anos em estudo, 84,8% a 100% das microrregiões possuíam área de cultivo de cevada por microrregião inferior a 5.000ha/microrregião, sendo que as faixas 1-100, 100-500 e 1000-5000 apresentaram no conjunto dos quatro anos maiores freqüências.

Dinâmica da produção de cevada nas regiões geográficas

As distribuições da área colhida e da quantidade produzida de cevada nas regiões geográficas apresentadas nas tabelas 3 e 4, considerando os anos de 1975, 1985, 1995 e 2003, demonstram que o cultivo de cevada no Brasil está restrito a região Sul, ocorrendo cultivos esporádicos e incipientes do cereal nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Nos anos de 1975 e 1995 a região Sul foi responsável por 100% do cultivo do cereal. A região Sudeste, em 1985, e a região Centro-Oeste, em 2003, apresentaram registro de cultivo de cevada, representando, em ambos os casos, menos de 0,25% de participação. Considerando uma escala ordinal das regiões (Norte < Nordeste < Sudeste < Sul < Centro-Oeste), o índice de dominância estocástica apresenta valores de 0,25, o que expressa assimetria nas distribuições e constância deste comportamento. Os valores de um ou próximos a um do índice de Theil indicam a distribuição espacial concentrada em uma classe, no caso região Sul, e sua constância entre os anos em análise, aponta manutenção desta dinâmica no período em estudo. Usando-se o índice de transvariação para avaliar as alterações na distribuição de freqüência entre os anos analisados com respeito a 1975, observa-se que os valores obtidos, zero ou próximos a zero, refletem a manutenção da mesma distribuição tanto em termos de área colhida como em termos de quantidade produzida.

Distribuição de freqüência e concentração da cultura nas microrregiões geográficas

Entre 75 a 80% das microrregiões onde houve registro de cultivo de cevada, nestes anos, compõem o grupo de microrregiões suficientes para formar o quartel Q1 (tabelas 5 e 6). Percentuais menores foram suficientes para formação dos demais quartéis (Q2, Q3 e Q4), sendo que na maioria dos anos estudados, três a cinco microrregiões foram suficientes para alcançar 50% da área colhida ou da quantidade produzida de cevada no Brasil (Q3 + Q4). O número de microrregiões com registro de cultivo apresentou flutuação entre os anos de estudo, variando de 33 microrregiões, em 1975, a 51 microrregiões, em 1985. Tais oscilações foram mais percebidas no quartel Q1, havendo um certo grau de constância em termos do número de microrregiões suficientes para formação dos demais quartéis (Q2, Q3 e Q4). Considerando-se o quartel superior (Q4), vê-se que em 1975 apenas uma microrregião era suficiente para se obter 25% da quantidade produzida do cereal; três microrregiões reuniam 50% da quantidade produzida (Q4 + Q3) e com sete microrregiões (Q4 + Q3 + Q2) se alcançava 75% da quantidade total produzida de cevada. Em 1985, para se reunir os mesmos níveis percentuais de quantidade produzida de cevada foram suficientes as quantidades de 2, 4 e 10 microrregiões; em 1995, 2, 3 e 8 microrregiões foram suficientes para o mesmo fim e, em 2003, esses números foram 1, 3 e 9 microrregiões.

Observando-se os valores do índice de dominância estocástica para o caso de área colhida e de quantidade produzida que variaram de 0,86 a 0,91, constata-se que as distribuições apresentaram concentração a esquerda de freqüência, ou seja, houve um número elevado de microrregiões no quartel Q1. Os valores calculados para o índice de Gini, variando de 0,72 a 0,81, indicam a existência de concentração nas distribuições das microrregiões em termos de área colhida e quantidade produzida, o que em termos gerais demonstra que poucas microrregiões, cerca de 20% do total de microrregiões com registro de cultivo, foram responsáveis por 75% da área colhida e da quantidade produzida de cevada no Brasil. Segundo os valores calculados para o índice de Theil, a distribuição não é uniforme apresentando um grau intermediário de concentração. Em todos os índices calculados, observa-se proximidade de valores do mesmo índice entre os anos estudados, indicando que o comportamento da distribuição tanto em área como em quantidade tem se mantido constante. No ano de 2003, os índices de Gini e de Theil apresentaram os maiores valores entre os anos de estudo em relação a quantidade produzida, o que indicaria uma elevação da concentração.

Dinâmica da cultura em termos de deslocamento de microrregiões na área colhida e quantidade produzida

A Tabela 7 apresenta indicadores para realização de análise da dinâmica espacial da cevada em termos de área colhida. De modo geral, considerando os anos estudados, 2 microrregiões foram suficientes para compor 25% da área colhida em todos os anos, de 3 a 5 microrregiões para se alcançar 50% da área colhida e com 8 a 11 microrregiões se obtinha 75% da área colhida.

Tomando-se o quartel superior de distribuição – Q4, 25% da área colhida, e analisando os índices de persistência e distância de Cantor entre os períodos comparados, observa-se que, no período 1975 - 1985, as microrregiões que perfizeram este grupo não foram as mesmas. O valor zero do índice de persistência nesta comparação indica que nenhuma das microrregiões que participaram na formação dos 25% de área total em 1975 fez parte deste grupo em 1985. Já na comparação deste grupo entre os anos de 1975 - 1995, observa-se que um terço deste grupo permaneceu o mesmo já que o valor do índice de persistência foi 0,33 (33%) e o valor do índice de Cantor foi 0,67 (76%). A mesma situação ocorreu na comparação entre os anos de 1975 – 2003.

Considerando o grupo de microrregiões que perfizeram 75% de área colhida, observaremos um comportamento típico de permanência de aproximadamente um quarto das microrregiões entre os anos (PERSIST75-85 = 0,27, PERSIST75-95 = 0,23 e PERSIST75-03 = 0,29). Considerando o total da área colhida, entre 1975 - 1985, houve uma maior persistência das microrregiões com registro de área colhida (PERSIST75-85 = 0,53) e menor percentual de troca de microrregiões (DISTCAT75-85 = 0,47). Já comparando as microrregiões com registro de área colhida em 1975 com as de1995 e as de 2003 houve uma maior alteração das microrregiões perfizeram esta grupo (PERSIST75-95 = 0,42 e PERSIST75-03 = 0,46).

As distâncias de transvariação observadas apresentam valores maiores na comparação entre os anos de 1975-1985, variando decrescentemente de 1,00, no grupo 25%, a 0,59, considerando o total da área colhida. Nas comparações entre 1975-1995 e 1975–2003, as maiores alterações em relação ao percentual de permanência das microrregiões foram no grupo que compôs 50% da área colhida.

Se considerado o total da área colhida de cevada comparando o ano de 1975 com 1985, 1995 e 2003 observa-se que o percentual de participação das microrregiões com registro de cultivo no ano inicial e no ano final, microrregiões “persistentes”, foi de 68,4% a 94,7%. Já a contribuição de microrregiões “entrantes” foi em torno de 15,4% a 31,6%. Tal constatação remete a existência de manutenção de uma área tradicional de cultivo de cevada no Brasil nestes últimos 30 anos.

A Tabela 8 apresenta a relação das microrregiões que perfizeram o quartel superior (Q4) em termos de área colhida para os anos de 1975, 1985, 1995 e 2003. O quartel superior apresentou participação acumulada em termos de área colhida de 25,7% a 39,8% da área colhida total e em todos os anos foi formado por apenas duas microrregiões tendo destaque as microrregiões de Guarapuava, PR, e Passo Fundo, RS. A microrregião de Guarapuava, PR, pertenceu a tal quartel nos anos de 1975, 1995 e 2003 como a microrregião de maior área colhida por microrregião, com percentual de participação em termos da área total em torno de 20%. A microrregião de Passo Fundo, RS, fez parte do quartel superior (Q4) nos anos de 1985, 1995 e 2003 com percentual de participação em torno de 15% do total de área colhida.

A Tabela 9 apresenta indicadores de dinâmica espacial da cevada em termos de quantidade produzida. Considerando os anos estudados, observa-se que o grupo responsável por 25% da quantidade produzida (Q4) foi formado por uma a duas microrregiões; três a quatro microrregiões foram o grupo de microrregiões responsáveis por 50% da quantidade produzida (Q4+ Q3) e sete a dez microrregiões foram responsáveis por 75% da quantidade produzida (Q4 + Q3 + Q2), números menores se comparados aos grupos de área colhida.

Analisando os índices de persistência e distância de Cantor, observa-se que, entre os anos de 1975 e 1985, as microrregiões que perfizeram o quartel superior (Q4) que representa 25% da quantidade produzida não foram as mesmas (PERSIST75-85 = 0,00; DISTCAT75-85 = 1,00). No entanto, entre os anos 1975 e 2003, a mesma microrregião, no caso a microrregião de Guarapuava (Tabela 10), foi responsável por aproximadamente 26% da quantidade produzida em ambos os anos (PERSIST75-03 = 1,00; DISTCAT75-03 = 0,00). Já na comparação entre os anos de 1975 - 1995, uma microrregião, a microrregião de Guarapuava, pertencia a este grupo em ambos os anos e outra, a microrregião de Passo Fundo, integrou este grupo em 1995, mas não pertencia ao mesmo em 1975 (PERSIST75-95 = 0,50; DISTCAT75-95 = 0,50). Considerando o grupo que compôs 75% da quantidade produzida, entre os anos de 1975 e 1985, aproximadamente 1/3 das microrregiões mantiveram registro de cultivo em ambos os anos (PERSIST75-85 = 0,31; DISTCAT75-95 = 0,69), enquanto entre os anos 1975-1995 e 1975-2003 este índice foi de ¼ do total de microrregiões com registro de cultivo em ambos os anos (PERSIST75-95 = 0,25 e PERSIST75-03 = 0,23). No total, 100% da quantidade produzida, entre 1975 - 1985, houve uma maior persistência de microrregiões com registro de cultivo (PERSIST75-85 = 0,53 e DISTCAT75-85 = 0,47). Já entre 1975 - 1995 e 1975 - 2003 houve uma maior alteração de microrregiões com registro de cultivo (PERSIST75-95 = 0,42 e PERSIST75-03 = 0,46), comportamento semelhante a área colhida. Diferente comportamento é observado em relação ao grupo de microrregiões que compuseram 50% e 75% da quantidade produzida na comparação 1975 - 1985 e ao grupo de microrregiões que compuseram 25% e 50% da quantidade produzida, no comparativo entre 1975 - 1995 e 1975 - 2003, uma vez que os valores do índice de persistência são maiores quando confrontamos números obtidos considerando a área colhida e a quantidade produzida. Para melhor visualização geográfica das alterações discutidas acima, são apresentados mapas do Brasil (Figura 3), onde foram mostradas as microrregiões que compuseram 75% da quantidade produzida de cevada (Q4 + Q3 + Q2) para os comparativos entre os anos 1975 - 1985, 1975 - 1995 e 1975 – 2003.

Semelhante á área colhida, os valores do índice de transvariação entre os anos de 1975-1985 são maiores que os das comparações entre 1975 - 1995 e 1975 – 2003, o que indica uma maior variação de percentual de participação individual de cada microrregião entre 1975 e 1985.

As considerações feitas sobre o percentual de participação das microrregiões que mantiveram registro de cultivo em relação a área total colhida de cevada são semelhantes para a quantidade produzida. Considerando o grupo 100%, quantidade produzida total, a observação da participação percentual do grupo persistente sobre o total produzido no ano inicial e no ano final (colunas PCTAI e PCTF) que variou de 94,4% a 69,7% da quantidade total produzida, reforça a idéia anteriormente formulada de que o cultivo de cevada tem se mantido circunscrito a um grupo de microrregiões no decorrer destes trinta anos.

Observa-se na Tabela 10 que a microrregião de Guarapuava, PR, pertenceu a tal quartel nos anos de 1975, 1995 e 2003, sendo que nos anos de 1975 e 2003 somente ela foi responsável por 26,9 e 26,8% do total produzido, respectivamente.

Densidade de produção de cevada por microrregião

O grau de importância relativa de uma cultura em relação as microrregiões que apresentam registro de cultivo pode ser feita a partir da análise de uma variável que dê uma idéia de densidade, expressa pela quantidade produzida (t) na microrregião dividida pela sua respectiva área total (km²). O uso do conceito de densidade se justifica para auxiliar na determinação de aglomerados ("clusters") de microrregiões que, mesmo com áreas individuais pequenas, têm uma presença importante da cultura. Nesta seção, o trabalho se concentra no comportamento da quantidade produzida, com a mesma técnica usada anteriormente: 1) calcula-se a densidade (t/km²) da quantidade produzida em cada microrregião com registro de produção; 2) ordenam-se as microrregiões por densidade, com o que se obtém uma escala ordinal; 3) aloca-se em cada microrregião a quantidade produzida; e 4) com a distribuição acumulada da quantidade produzida determinam-se os quartis e os quartéis.

A Tabela 11 apresenta a distribuição de freqüências de microrregiões por quartel de quantidade produzida, a partir do ordenamento das microrregiões por densidade de produção (t/km²), e os índices de assimetria e concentração. Os valores máximos de densidade observados (Tabela 12) foram: 0,77 t/ km2, em 1975; 4,69 t/ km², em 1985; 9,50 t/ km², em 1995; e 11,69 t/ km², em 2003. Aproximadamente 6,0% das microrregiões perfizeram o quartel superior (Q4) e 77,0% o quartel inferior Q1, na média dos quatro anos em estudo. Os índices de dominância estocástica calculados para a distribuição dos anos estudados (0,87 nos anos de 1975, 1985 e 1995 e 0,88 no ano de 2003) ratificam a assimetria da distribuição para a esquerda, ou seja, concentração de número de microrregiões no quartel Q1. A Figura 5 ilustra a distribuição geográfica dos quartéis Q2, Q3 e Q4 para o ano de 2003, que estão aglutinadas na região norte-noroeste do estado do Rio Grande do Sul e sul-sudeste do estado do Paraná. Os valores calculados para o índice de Gini, variando de 0,73 a 0,78, indicam a existência de concentração da freqüência de microrregiões em termos de densidade, o que em demonstra que para grande maioria das microrregiões com registro de cultivo de cevada, a densidade observada é bastante baixa, indicando um importância relativamente pequena da cultura para estas microrregiões. Segundo os valores calculados para o índice de Theil, a distribuição não é uniforme apresentando um grau intermediário de concentração.

Na Tabela 12 são relacionadas as dez microrregiões com maiores valores de densidade (t/km2), para cada um dos anos em estudo. Observa-se que houve um aumento no valor das densidades máximas com o passar dos anos. Comparando as microrregiões relacionadas nas tabelas 8 e 10, observaremos a presença das mesmas com valores de densidade próximo aos máximos observados em cada ano dos estudados, o que indica que além da importância relativa desta microrregiões para o cultivo da cultura no país, nestas microrregiões a cultura da cevada constitui um importante produto agrícola. Observa-se que quatro microrregiões mantiveram-se entre as dez maiores densidades em todos os anos: Erechim, RS, Guarapuava, PR, Passo Fundo, RS e Sananduva, RS. Microrregiões como Ponta Grossa, PR, e Não Me Toque, RS, fizeram parte deste grupo nos anos de 1985, 1995 e 2003 e a microrregião de Carazinho, RS, nos anos de 1995 e 2003. A cultura de cevada para estas microrregiões parece ter expressão significativa em termos de cultivo agrícola e se identificadas geograficamente as mesmas coincidem com a região norte-noroeste do estado do Rio Grande do Sul e sul-sudeste do estado do Paraná, como podemos visualizar na Figura 4.

As distâncias de Cantor calculadas com base na densidade demonstram que em torno de ¼ das microrregiões que compunham o grupo das 10 microrregiões de maior valor de densidade foram persistentes no comparativo entre 1975 –1985 e 1975 – 2003. De 1975 a 1995 houve troca de 67% das microrregiões deste grupo.
Deve-se ter certa cautela na interpretação dos resultados desta seção, uma vez que, como se usou a área total da microrregião e não a área agricultável da mesma, e considerando que o fato de uma microrregião ter uma área total elevada não garante que ela tenha uma área agricultável elevada, pode haver subestimação com respeito ao valor de um índice similar ao de densidade, mas de uso da terra. No entanto, a densidade serve de ponto de partida para diversos exercícios de fatorização, nos quais, dependendo dos dados disponíveis, pode aparecer um fator que indica o uso da terra (por exemplo, área plantada dividida por área agricultável).

Evolução e dinâmica da produtividade

Buscando identificar agrupamentos de microrregiões com alta produtividade, empregou-se a mesma técnica já usada anteriormente para determinação dos quartis e obtenção dos quartéis da quantidade produzida, com a diferença de que o ponto de partida para ordenamento das microrregiões foi a produtividade (kg/ha), isto é, o quociente da quantidade produzida pela área colhida. A distribuição de freqüências de microrregiões por quartel de quantidade produzida, a partir do ordenamento das microrregiões por produtividade (kg/ha) são apresentados na Tabela 13, assim como os índices de assimetria e concentração calculados com base nesta distribuição. Observa-se que no ano de 1975, 9,4% das microrregiões apresentaram produtividade igual ou acima do quartil superior (q3), igual ou acima de 1.400 kg/ha (Tabela 14). Em 1985 e 1995, 18,31% e 17,65% das microrregiões apresentaram produtividade igual ou acima do quartil superior (q3), acima de 1.702 kg/ha e de 1.684 kg/ha, respectivamente. No ano de 2003, somente 2,27% apresentaram produtividade igual ou acima do quartil superior (q3), ou seja, igual ou acima de 3.941 kg/ha. Os índices de dominância estocástica calculados indicam assimetria da distribuição para a esquerda, ou seja, concentração do número de microrregiões no quartel Q1. Os valores de 0,70, 0,72 e 0,79 nos anos de 1975, 1985 e 2003, respectivamente, demostraram que para grande maioria das microrregiões com registro de cultivo de cevada nestes anos, a produtividade observada aproximou-se aos valores mínimos observados. No caso de 1995, existe assimetria (DOM1995= 0,56), no entanto, a distribuição das microrregiões com base na produtividade tem menor grau concentração que os demais anos. Segundo os valores calculados para o índice de Gini, observa-se tendência a concentração dos dados para os anos de 1975, 1985 e 2003. Já para o ano de 1995 (GINI1995= 0,18), a distribuição tende a ser uniforme entre os quartéis, sendo que 47,06% perfizeram os quartéis superiores Q3 e Q4.

A Tabela 14 apresenta as dez microrregiões que apresentaram maiores rendimentos para os anos em estudo. De modo geral, observou-se aumento expressivo nas produtividades máximas registradas entre 1975 e 2003, indo de 1.800 kg/ha (1975) para 3.941 kg/ha (2003). No ano de 1975, a microrregião de maior produtividade foi a de Lapa, PR (1.800 kg/ha); em 1985, a de Patrocínio, MG (3.258 kg/ha); em 1995, a de Curitibanos, SC (2.160 kg/ha); e em 2003, a de Guarapuava, PR (3.941 kg/ha). Microrregiões como as de Guarapuava e de Ponta Grossa, ambas no estado do Paraná, foram observadas entre as dez maiores produtividade em três dos quatro anos em análise. As microrregiões de Cascavel (PR), Curitiba (PR), Serras do Sudeste (RS), Não Me Toque (RS), Sananduva (RS) e Joaçaba (SC) foram observadas entre as dez maiores produtividade em dois dos quatro anos em análise.

Observou-se um grau expressivo de mobilidade das microrregiões que compõe o grupo das 10 microrregiões de maior valor de produtividade, já que 82,0% (1975-1985), 89,% (1975-1995) e 95,0% (1975-2003) das microrregiões que integravam este grupo no ano de 1975 não fazem parte dele nos anos de 1985, 1995 e 2003, respectivamente, conforme cálculo das distâncias de Cantor.

A Figura 5 ilustra a distribuição geográfica das microrregiões dos quartéis Q2, Q3 e Q4 para o ano de 2003 segundo a produtividade de cevada obtida (kg/ha). A microrregião de Guarapuava sozinha forma o quartel superior Q4. O quartel Q3, conforme o mapa apresentado é composto por microrregiões da região centro sul do PR, centro do RS e Centro Oeste (entorno de Brasília). Por sua vez, o quartel Q2 contém microrregiões pertencentes às regiões norte de SC e centro-nordeste do RS.

Centros de Gravidade

Ao analisarmos o Brasil, as microrregiões definidas como Centro de gravidade foram: Concórdia, SC (1975 e 1985), Erechim, RS (1995) e Xanxerê, SC (2003) (Tabela 15). Como podemos observar através dos dados anteriores, a produção de cevada no Brasil possui duas regiões-base: norte-noroeste do estado do Rio Grande do Sul e sul-sudeste do estado do Paraná, o que resultaria no centro de gravidade locada no estado de Santa Catarina, numa situação de paridade entre estas regiões, e na região norte do Rio Grande do Sul, numa situação de concentração de quantidade produzida no estado do Rio Grande do Sul. Examinando a localização dos centros de gravidade dentro dos quartéis vê-se que, as microrregiões da região sul-sudeste do PR foram determinadas como centros de gravidade do quartel superior (Q4) em três dos quatro anos, mostrando a importância relativa desta região na formação da produção de cevada. No ano de 1995, com exceção do quartel Q4, todos os demais centros de gravidade localizaram-se no estado do RS, podendo-se considerar uma concentração da produção de cevada no estado neste ano. Semelhantemente, no ano de 2003, os centros de gravidade dos quartéis Q3, Q2 e Q1 localizaram-se no estado de SC.

As distâncias entre os centros de gravidade, relativo ao Brasil, entre os anos estudados são relativamente baixas variando de 13 a 83 km, o que indica estabilidade na abrangência da área de cultivo de cevada no Brasil neste período (Tabela 16). De 1975 para 1985, o deslocamento do centro gravidade, relativo ao Brasil, foi de 13 km, de 1985 para 1995, 49 km e de 1995 para 2003, 83 km. A distância máxima observada de 325 km foi constatada no caso do centro de gravidade do quartel Q3 entre os anos de 1985 e 1995.

Entre os anos de 1975 e 1985, há pouca alteração na distribuição ponderada de abrangência da produção de cevada no Brasil (figuras 6 e 7) . Entre os anos de 1985 – 1995 observam-se um deslocamento do centro de gravidade para a região norte do RS, possivelmente resultante do estímulo da produção de cevada na região norte do RS e decréscimo de participação de microrregiões do PR e, especialmente, de SC. Finalmente, entre os anos de 1995 –2003, o centro de gravidade deslocou-se para o norte de Santa Catarina em decorrência de crescimento de cultivo de cevada na região sul-sudeste do PR e do registro de cultivo de cevada na região Centro-Oeste.

Analisando-se o comportamento das distâncias dos centros de gravidade das microrregiões com maior quantidade produzida que compõe o quartel superior Q4, tomando o ano base de 1975, observa-se um grande deslocamento inicial (sul do PR para norte do RS), no ano de 1985, e nos anos posteriores, há um retorno progressivo de microrregiões que compõem tal grupo. Em relação aos quartéis Q2 e Q1, há um deslocamento menor dos centros de gravidade comparando o ano de 1975 aos demais e deslocamento bem menores se considerarmos a seqüência evolutiva dos anos 1975 – 1985 – 1995 – 2003.


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