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Dezembro, 2006
Passo Fundo, RS

Resultados e discussão

Evolução da área colhida, quantidade produzida e produtividade no Brasil

Os dados da Tabela 1 e o gráfico da Fig. 3 mostram que, no período 1975-2003, a evolução da área colhida foi instável, variando de 2.932.000 ha, em 1975, a 995.000 ha, em 1995, e voltando a 2.560.000 ha em 2003. A quantidade produzida teve comportamento semelhante: era de 1.788.000 t em 1975, caiu para 1.534.000 t em 1995 e subiu para 6.154.000 t em 2003. A produtividade, no entanto, teve uma clara tendência de crescimento , embora com variabilidade anual considerável. Em 1975, a produtividade era de 610 kg/ha, em 1995 já alcançava 1.542 kg/ha e, em 2003, chegou a 2.403 kg/ha.

A distribuição das microrregiões em função da sua área de trigo colhida é apresentada na Tabela 2, mostrando que 63,0%, 73,9%, 77,1% e 61,7% das microrregiõs, estão alocadas na faixa de 15.000 ha ou menos, em 1975, 1985, 1995 e 2003, respectivamente.

Dinâmica da produção de trigo nas regiões geográficas

Nas tabelas 3 e 4 observa-se que tanto a área colhida como a quantidade de trigo produzida tiveram oscilação expressiva entre os quatro anos estudados, variando a área colhida de 2.931.508 ha, em 1975, a 994.734 ha, em 1995, e a produção de 1.533.871 t, em 1995, a 6.153.500 t, em 2003; porém, o predomínio da região Sul foi constante, sendo a mesma responsável por mais de 85% da área colhida e da quantidade produzida em todos os anos. Em 1975, a região Sudeste ocupava o segundo lugar tanto em área como em produção e o Centro-Oeste, o terceiro. A partir de 1985, estabeleceu-se um certo equilíbrio entre a participação das duas regiões, com uma tendência a favor da região Centro-Oeste.

Nas tabelas 5 e 6 são apresentados índices de dominância e concentração, e uma medida de distância (com respeito a 1975), que permitem estimar a magnitude das mudanças ocorridas. Comparando-se os valores de cada índice na Tabela 5 com o seu correspondente na Tabela 6, constata-se grande similaridade; ou seja, o comportamento da dinâmica é semelhante em termos de área colhida e de quantidade produzida para o trigo.

Para utilizar o índice de dominância, aceita-se uma escala ordinal das regiões (N < NE < SE < S < CO). Nos dois casos, em todos os anos, os valores do índice de dominância estão ao redor de 0,25 mostrando existência de assimetria nas distribuições (para a direita, isto é, S e CO), e não ocorrência de mudança significativa no que tange à dominância das regiões estudadas, o que confirma os comentários feitos para as tabelas 3 e 4. No entanto, o que pode aparecer como uma pequena diminuição nos índices de dominância, de 1975 para 2003, serve para captar o sentido dos principais deslocamentos; assim, na Tabela 6, a mudança de 0,2586 (1975) para 0,2460 (2003) reflete a diminuição na participação do SE e o aumento na do CO, no que se refere a quantidade produzida. Os valores do índice de Theil, próximo ao valor um, mostram a existência de concentração de valores em uma classe (no caso, a região Sul). Chamam a atenção os índices obtidos em 1985, 0,69 e 0,68, respectivamente, que comparados aos demais anos mostram que, nesse ano, houve uma diminuição na concentração da área colhida e da quantidade produzida, devido à queda de participação da região Sul e ao aumento da participação das regiões CO e SE. Os valores obtidos para a distância de transvariação, igual ou abaixo de 0,1, indicam que a magnitude das mudanças do ano inicial para os demais foi quase nula, conferindo uma certa estática da produção de trigo com relação às regiões geográficas; ou seja, a região Sul concentra a produção de trigo. O maior valor de DISTRA em 1985, nas duas tabelas, concorda com o comentário anterior sobre a relativa desconcentração ocorrida nesse ano.

Distribuição de freqüência e concentração da cultura nas microrregiões geográficas

As tabelas 7 e 8 indicam, para os anos em estudo, o número de microrregiões em cada quartel, bem como o número total de microrregiões onde houve registro de cultivo de trigo, e índices de dominância e concentração considerando a área colhida e a quantidade produzida, respectivamente. Em ambos os casos, para a determinação dos quartéis usou-se o ordenamento das microrregiões pela própria variável estudada; por exemplo, para determinar os quartéis de área colhida, partiu-se de um ordenamento das microrregiões, em cada ano, pelos seus valores de área colhida e, posteriormente, foi realizada a acumulação dessa mesma variável para obter os quartéis. Para o cálculo do índice de dominância (DOM), aceita-se a escala ordinal Q1 < Q2 < Q3 < Q4. Com base nisso, tem-se que, nas duas tabelas, todas as distribuições são decrescentes; portanto, salvo por pequenas diferenças de arredondamento, vale a relação GINI = 2*DOM – 1; de modo que, nessas tabelas, DOM funciona como índice de assimetria e de concentração, e o índice GINI não acrescenta informação alguma. Se bem que, nessas tabelas, o GINI é redundante, ele foi mantido para efeitos de comparações posteriores, em casos em que não há uma relação conhecida entre DOM e GINI, pela ausência de monotonia. Nota-se haver uma correspondência muito grande entre os dados relativos a área colhida e quantidade produzida, indicando que as distribuições de freqüência e as concentrações das duas variáveis foram muito semelhantes. Em ambos os casos, houve grande concentração de microrregiões no quartel inferior (Q1), e freqüências muito mais baixas de Q2 para Q4. Na prática, considerando-se a soma das microrregiões dos quartéis 2, 3 e 4, constata-se que 21 a 24% das microrregiões, nos anos de 1975, 1995 e 2003, foram suficientes para se alcançar 75% da área colhida e da produção de trigo no Brasil. Em 1985, este percentual foi mais baixo: 15% das microrregiões foram responsáveis por 75% da área colhida e 14%, no caso da quantidade produzida. Incidentalmente, esse resultado mostra que a cultura do trigo não escapa da situação geral na agricultura brasileira, confirmada no estudo de muitos outros produtos, que pode resumir-se no seguinte: menos de 25% das microrregiões com registro do produto são suficientes para se obter 75% do volume (seja área colhida, quantidade produzida, ou efetivo de animais). Observando-se a evolução durante o período 1975 a 2003, vê-se que houve acréscimo no número de microrregiões suficientes para se reunir 25% da área colhida e da quantidade produzida (Q4), passando de 3 para 6. Considerando o início e o fim do período estudado, a alteração no número de microrregiões de formação do Q3 e Q2 foi mínimo; no entanto, em 1985, nas duas tabelas, constata-se um número maior de microrregiões presentes no Q1 (117 e 119) quando comparado com os dos outros anos, em torno de 85. Isto indica uma expansão para novas microrregiões (por exemplo, no Centro-Oeste), que tiveram pouca participação no total de área colhida ou quantidade produzida. A explicação para este incremento pode estar no fato de que, ao redor de 1985, a política para a produção e comercialização do trigo brasileiro estava em excelente fase, o que atraiu momentaneamente, em grande parte, produtores de microrregiões não- tradicionais a cultivarem o trigo. Passado esse período, voltou-se para números normais. Os valores de dominância estocástica obtidos refletem bem o descrito, indicando, em todos os anos, uma concentração elevada sobre a esquerda das distribuições, principalmente no quartel 1, e que a distribuição das microrregiões nos quartéis, ao longo dos anos, só apresentou uma pequena variação em 1985. Pela propriedade indicada anteriormente, o índice GINI comporta-se como DOM; por sua vez, o índice de Theil, que resulta de um cálculo totalmente diferente, acompanha o sentido das variações de DOM, nas duas tabelas. Considerando-se o quartel superior (Q4), vê-se que, em 1975, apenas 3 microrregiões com maior área de trigo perfaziam 25% da área colhida da cultura, com 10 microrregiões se obtinha 50% da área (Q4+Q3) e com 23 (Q4+Q3+Q2) se alcançava 75% da área total. Em 1985, para se obter os mesmos níveis percentuais de área total com trigo foram suficientes as áreas de 4, 10 e 21 microrregiões; em 1995, foi suficiente com 4, 11 e 24 microrregiões para o mesmo fim e, em 2003, esses números foram 6, 14 e 27. Logicamente, em todos os casos, o número de microrregiões para se alcançar 100% está dado por TOTMIC. Pode-se notar que de 1975 a 2003 houve mudanças muito pequenas no número mínimo de microrregiões que foram suficientes para alcançar os percentuais de 25, 50 e 75% da área total colhida com trigo no Brasil, e que uma evolução similar ocorreu com a quantidade produzida.

Dinâmica da cultura em termos de deslocamento de microrregiões na área colhida e quantidade produzida

Na Tabela 9 é apresentado o número mínimo de microrregiões suficientes para a formação dos quatro grupos definidos pelos percentuais de 25%, 50%, 75% e 100% da área colhida de trigo, nos anos de 1975, 1985, 1995 e 2003, mas comparando o ano de 1975 com cada um dos outros, de modo a avaliar a dinâmica territorial. Note-se que foi introduzido o termo "grupo" para indicar um certo percentual; no caso, grupo 25% coincide com Q4, grupo 50% é a união de Q4 e Q3 (como são conjuntos disjuntos, o número de microrregiões no grupo 50% é a soma das que compõem Q4 e Q3), grupo 75% é a união de Q4, Q3 e Q2 (tem um número de microrregiões igual à soma das que compõem esses três quartéis), e grupo 100% é o total de microrregiões (com um número dado por TOTMIC nas Tabelas 6 e 7). Isso é para cada ano; logicamente, ao se comparar 1975 com outro ano, em um dos grupos, algumas microrregiões podem aparecer nos dois anos ("parte persistente"), o que corresponde à interseção de dois conjuntos (um para 1975 e o outro para o segundo ano da comparação). A coluna A mostra o número de microrregiões comuns ao ano de início e o de final do período indicado, ou seja, as microrregiões persistentes. A coluna B informa o número de microrregiões que estavam presentes em 1975 mas não estão presentes no ano final do período, e a coluna C informa o inverso, isto é, o número de microrregiões que não estavam no ano inicial do período e entraram no ano final.

Ainda na Tabela 9, a coluna PERSIST mostra o índice de persistência, que é a parte l de A em relação a A+B+C e significa a proporção de microrregiões, em cada grupo, que persistiram, ou seja, estavam presentes no início e no fim do período. Considerando-se o número de microrregiões suficientes para perfazer 25% da área total de trigo, vê-se que o índice de persistência foi 0,17, no período 1975-1985, o que indica que apenas 17% das microrregiões que participaram na formação dos primeiros 25% de área total (Q4) são comuns a 1975 e a 1985. Em 1975-1995, vê-se, para o mesmo caso, que a persistência foi zero, ou seja, nenhuma microrregião que contribuiu para formar Q4 em 1975 estava participando da formação desse quartel em 1995; isto é, houve troca das microrregiões com maior área de trigo colhida. Em 1975-2003, no mesmo grupo, o índice de persistência aumentou para 0,50, indicando um certo retorno para a situação inicial, sendo que as três microrregiões que formavam Q4 em 1975 voltaram a fazer parte desse quartel em 2003. Nota-se que, nos intervalos 1975-1985 e 1975-1995, o índice de persistência aumentou acentuadamente a medida que o percentual de área total considerado foi crescendo, o que é um tipo de comportamento bastante comum; no período 1975-2003, o índice de persistência mostrou um comportamento diferente, caindo de 0,50 no grupo 25% para 0,41 no grupo 50%, e tornando a crescer nos outros grupos. De modo geral, observou-se que, em relação ao ano de 1975, houve uma expressiva alteração de microrregiões que compõem o quartel Q4, que são umas poucas microrregiões com maior área colhida e responsáveis por 25% da área total; no entanto, considerando a área colhida total (grupo 100%), observou-se que em torno de 70% das microrregiões mantém registro de cultivo de trigo em todos os anos analisados. A distância de Cantor (DISTCANT), que consiste no complemento do índice de persistência, utiliza os mesmos dados para dar uma medida de dinâmica da evolução territorial; por exemplo, mostra que, no caso da formação da área total colhida, nos três períodos estudados, o percentual de troca de microrregiões esteve próximo a 30%. Quanto à distância de transvariação (DISTRAN), que utiliza no seu cálculo as áreas colhidas nas microrregiões envolvidas para mostrar a magnitude das mudanças, vê-se que os valores tiveram um comportamento relativamente semelhante aos da distância de Cantor, ou seja, são maiores quando se estuda as mudanças no grupo de microrregiões responsáveis pelos 25% da área total e menores quando se analisa o grupo responsável por 100% da área de trigo (com a única excecão já observada para o grupo 50% no período 1975-2003). Além disso, dentro de cada período, o sentido das variações em ambas as distâncias, quando se passa de um grupo para o seguinte, é o mesmo. Valores de 0,50 ou mais indicam mudanças importantes. É o que aconteceu nos grupos 25% e 50% no período 1975-1985, e nos grupos 25%, 50% e 75% em 1975-1995 (no caso do grupo 25% a mudança foi total). No período 1975-2003, os valores das distâncias de transvariação ficaram abaixo de 0,50 em todos os grupos; no entanto, os grupos 25% e 50% tiveram os maiores valores, muito próximos de 0,50. Note-se que os valores de DISTRA nesse período são todos menores que os dos respectivos grupos no período 1975-1995, o que assinala um certo retorno à situação inicial (1975); isso não é bem captado pela distância de Cantor, que apenas conta microrregiões (ou seja, como se todas tivessem o mesmo peso de 1), e não considera os valores de suas respectivas áreas colhidas.

Nas colunas PCTB, PCTAI, PCTAF e PCTC, da Tabela 9, são apresentados os percentuais de área, relativos à área total colhida no país, correspondentes à participação das microrregiões locadas, respectivamente, na coluna B, na A no início do período, na A no fim do período e na C, em cada um dos grupos de área total colhida. Salienta-se que, quando se considera o total da área colhida (grupo=100%), nos três períodos estudados, as microrregiões persistentes, ao redor de 95, são responsáveis por cerca de 99% desta área. Tomando o grupo de microrregiões com maior área colhida individual (quartel Q4, ou grupo 25%), observou-se a redução de importância na contribuição da parte persistente (valor de PCTAI maior que o de PCTAF), nas comparações 1975-1985 e 1975-2003 (na comparação 1975-1995 a parte persistente foi vazia).

Na Tabela 10 são apresentadas as mesmas estatísticas da Tabela 9, porém, tendo como base a quantidade de trigo produzida em cada microrregião e no total do país. Os índices de persistência, embora tenham tido um comportamento relativo semelhante ao obtido para a variável área colhida, crescendo do grupo 25% para o 100%, apresentaram valores diferentes, de maneira geral, bastante mais baixos nos grupos 25%, 50% e 75% na comparação 1975-1985, nos grupos 50% e 75% na comparação 1975-1995, e nos grupos 25% e 75% na comparação 1975-2003. Salienta-se o fato de que houve troca total (persistência = 0) das microrregiões com maior valor individual de quantidade produzida que colaboraram para o obtenção dos primeiros 25% da quantidade produzida nos períodos 1975-1985 e 1975-1995. No período 1975-2003, esse valor passou para 0,29, sendo ainda baixo o percentual de microrregiões comuns ao início e ao fim do período. No caso da quantidade produzida, os valores dos índices de persistência menores, em relação aos obtidos para área colhida, podem estar relacionados aos rendimentos diferenciados e perda de produção devido a efeitos climáticos. Em todo caso, isso mostra uma mobilidade maior para a quantidade produzida do que para a área colhida (o que se traduz nas duas medidas de distância apresentadas). Note-se que os valores de B, A, C e, portanto, os da persistência e da distância de Cantor, relativos ao grupo 100%, nas duas variáveis, foram exatamente os mesmos. Isso ocorre sempre, pelo seguinte: (a) se uma microrregião estava presente no ano inicial e no final (coluna A), numa das variáveis, então também tem que estar na outra; e (b) se uma microrregião mudou (seja que saiu, coluna B, ou que entrou, coluna C) numa das variáveis, então o mesmo aconteceu na outra.

Os valores para a distância de Cantor variaram, nos três períodos analisados, na ordem inversa da persistência, ou seja, com valores mais altos no grupo 25% e decrescendo até o grupo dos 100%; salvo a igualdade já mencionada entre as duas tabelas, para o grupo 100%, nos demais grupos e períodos, essa distância é maior (7 casos) ou igual (2 casos) para a quantidade produzida, o que serve para resumir a maior mobilidade desta variável com respeito a da área colhida.

Quanto à magnitude das mudanças considerando a quantidade de trigo produzida, medida pela distância de transvariação (DISTRAN), obteve-se valores de 1,0, 0,89, 0,66 e 0,52 para os grupos 25%, 50%, 75% e 100%, respectivamente, no período 1975-1985, e quase iguais em 1975-1995, indicando que além de ter ocorrido mudanças de magnitude máxima, no caso do grupo 25% em ambos os períodos, as demais foram importantes. A análise do período 1975-2003 mostra valores de distância de transvariação menores do que os obtidos nos dois outros períodos, ou seja, 0,65 , 0,50, 0,43 e 0,37 para os grupos 25%, 50%, 75% e 100%, respectivamente, indicando um certo retorno à distribuição espacial de partida (1975); ou seja, com respeito a 1975, o afastamento foi maior em 1985 e 1995 do que em 2003. Para todos os períodos esta mobilidade é muito importante nos grupos 25% (quartel Q4) e 50% (Q4+Q3).

Com relação aos resultados apresentados nas colunas PCTB, PCTAI, PCTAF e PCTC da Tabela 10, salienta-se que quando se considera a produção total de trigo no país (grupo 100%), nos três períodos estudados, as microrregiões persistentes (ao redor de 95) são responsáveis por um percentual de cerca de 99% da quantidade total produzida; ou seja, semelhante ao que acontece com a área colhida, as microrregiões que caracterizam a formação da produção brasileira de trigo são praticamente as mesmas em 1975, 1985, 1995 e 2003. Pela observação dos dados, pode-se admitir que, de 1975 a 2003, houve um grupo estável de cerca de 95 microrregiões que responderam pela produção de trigo no País, que no decorrer do período houve um ampla flutuação de área colhida e quantidade produzida nessas microrregiões, e que aspectos tais como políticas setoriais, preços, rendimentos de grãos e instabilidade climática foram elementos que influenciaram na dinâmica da distribuição espacial da triticultura, como se reflete nos valores significativos alcançados pelas duas medidas de distância até o grupo 75%.

Na Tabela 11 são apresentadas as microrregiões, ordenadas em forma decrescente de área de trigo colhida (ha), que integraram o quartel superior em relação à área total de trigo colhida nos anos de 1975, 1985, 1995 e 2003. Em 1975, as microrregiões componentes do quartel superior eram todas do RS e juntas foram responsáveis por 25,2 % da área total colhida no País. Em 1985, apenas a microrregião de Santo Ângelo - RS permaneceu no quartel superior, sendo que entraram duas do PR e uma do MS. Note-se que a microrregião de Santo Ângelo, que em 1975 tinha a maior área de trigo colhida, caiu, em 1985, para a terceira maior área colhida, perdendo a primeira colocação para a microrregião de Toledo-PR. Em 1985, as quatro microrregiões do quartel superior foram responsáveis por 28,2% da área total colhida no País. Em 1995, as quatro microrregiões que formaram o quartel superior eram do Paraná e juntas perfizeram 27,0% da área de trigo colhida no País; permaneceu a microrregião de Toledo como a de maior área colhida. Em 2003, as três microrregiões do RS que constavam do quartel superior em 1975 retornaram ao mesmo, juntamente com outras três do PR; no conjunto, elas contribuíram com 27,2% da área total de trigo colhida no Brasil. A microrregião de Cruz Alta - RS foi a que ocupou a primeira posição em área colhida. Esse “retorno” à situação inicial (1975) já tinha sido comentado anteriormente; se sabia que as três microrregiões que compunham o grupo 25% (Q4) em 1975, tinham retornado em 2003 (ver Tabela 9, período 1975-2003, grupo 25%, onde aparece B = 0); agora, a Tabela 11 as identifica. Observa-se que, no decorrer do período, em média, as participações percentuais individuais das microrregiões deste quartel foram decrescendo, passando de um percentual médio de participação de 8,4%, no ano de 1975, para 4,5%, no ano de 2003. No caso da área colhida individual máxima por microrregião também há uma redução, principalmente no ano de 1995.

Os números nas colunas B, A e C da Tabela 9, para o grupo 25%, podem ser conferidos com os nomes das microrregiões que aparecem na Tabela 11. Por exemplo, entre 1975 e 1985, uma microrregião persistiu (Santo Ângelo; A = 1), duas saíram (Ijuí, Cruz Alta; B = 2) e três entraram (Toledo, Dourados, Cascavel; C = 3). Das seis microrregiões mencionadas, cinco estiveram envolvidas na mudança observada (isto é, 83% delas), seja porque saíram ou porque entraram, o que é expresso pelo valor DISTCANT = 0,83.

Na Tabela 12 são apresentadas as microrregiões que formaram o quartel superior em termos de quantidade produzida (t) de trigo nos anos de 1975, 1985, 1995 e 2003, ordenadas em forma decrescente. Em 1975, as microrregiões componentes do quartel superior eram todas do RS e juntas foram responsáveis por 27,0 % da quantidade total de trigo produzida no País. A microrregião que apresentou maior produção de trigo foi a de Santo Ângelo. Em 1985, o quartel superior não incluiu nenhuma das microrregiões que estavam nele em 1975; ou seja, três novas microrregiões (uma do PR, uma do MS e uma de SP) formaram o grupo superior e foram responsáveis por 28,8% da quantidade produzida nacional de trigo. A microrregião com maior participação individual na produção nacional de trigo foi a de Toledo – PR, que representou 16,3 % da quantidade produzida de trigo naquele ano. Em 1995, as quatro microrregiões que integraram o quartel superior eram do Paraná e juntas perfizeram 28,3% da quantidade produzida de trigo do País; note-se que a microrregião de Toledo permaneceu como a de maior produção, mas com um volume muito menor que o de 1985. Em 2003, semelhante ao ocorrido com a área colhida, as três microrregiões do RS voltaram a compor o quartel superior juntamente com outras três do PR, tendo este grupo contribuído com 26,9% da quantidade produzida de trigo no Brasil. A microrregião de Cornélio Procópio - PR foi a que ocupou a primeira posição em produção. Semelhante ao que ocorreu com a área colhida, observa-se redução no percentual médio de participação individual das microrregiões deste quartel no decorrer do período, passando de 9,0 %, no ano de 1975, para 4,5 %, no ano de 2003.

Novamente, as mudanças ocorridas, entre 1975 e os outros anos, em termos de números de microrregiões, persistências e distâncias de Cantor, podem ser comparadas com o que aparece na Tabela 10, nas linhas do grupo 25%.

Para melhor visualização geográfica das alterações discutidas acima, são apresentados mapas do Brasil (figuras 4, 5 e 6), onde são mostradas as microrregiões responsáveis por 75% da produção de trigo (grupo 75%), portanto, componentes dos quartéis 4, 3 e 2, para os períodos comparativos 1975-1985, 1975-1995 e 1975-2003, respectivamente. Nesses mapas, são diferenciadas por cores as microrregiões, da seguinte forma: a) amarelo, para as persistentes (ou seja, que participaram nos dois anos comparados; b) vermelho, as que estavam no ano inicial mas não no ano final; e c) azul, as que estavam no ano final mas não no ano inicial.

No período 1975-1985, na Figura 4, observa-se que, considerando 75% da quantidade produzida de trigo no país, as primeiras microrregiões que contribuíram com este percentual em ambos os anos situam-se, essencialmente, nas regiões noroeste do RS e oeste do PR. As microrregiões do sul do RS perfizeram esse grupo em 1975 mas não permaneceram em 1985, e novas microrregiões, ao norte do PR e sul do MS, integraram esse grupo em 1985 mas não o fizeram em 1975.

Na comparação entre 1975 e 1995 (Fig. 5), observa-se que, semelhante à comparação anterior, as microrregiões que contribuíram com o percentual de 75% em ambos os anos situam-se, principalmente, nas regiões noroeste do RS e oeste do PR. As microrregiões do sul do RS e algumas ao norte do RS pertenceram a esse grupo em 1975 mas não permaneceram em 1995, enquanto que novas microrregiões ao noroeste do RS, oeste do PR e, principalmente, norte do PR integraram esse grupo em 1995 mas não o fizeram em 1975.

Na comparação entre 1975 e 2003 (Fig. 6), observa-se que, semelhante às comparações anteriores, as microrregiões que contribuíram com o percentual de 75% em ambos os anos situam-se nas regiões noroeste do RS e oeste do PR. As microrregiões do sul do RS perfizeram esse grupo em 1975 mas não permaneceram em 2003, e novas microrregiões ao noroeste do RS , norte do PR e no MS integraram o grupo em 2003 mas não o fizeram em 1975.
Cabe assinalar que os números de microrregiões que aparecem nos mapas precedentes concordam com os da Tabela 10, nas linhas correspondentes ao grupo 75%, sendo que as da coluna A têm a cor amarela, as da B estão em vermelho e as da C em azul.

Densidade de produção de trigo por microrregião

Um outro aspecto que pode ser avaliado em relação a uma cultura agrícola, refere-se ao grau de importância que a mesma ocupa em relação à área total de uma microrregião. As análises feitas anteriormente, baseadas em área colhida e quantidade produzida de trigo não permitem tal avaliação. A introdução da análise de uma variável que dê uma idéia de densidade, expressa pela quantidade produzida (t) na microrregião dividida pela sua respectiva área total (km²), pode ajudar a mostrar a importância relativa do cereal nas microrregiões que apresentam registro de cultivo. Nesta seção, o trabalho se concentra no comportamento da quantidade produzida, com a mesma técnica usada anteriormente: 1) calcula-se a densidade (t/km²) da quantidade produzida em cada microrregião com registro de produção; 2) ordenam-se as microrregiões por densidade, com o que se obtém uma escala ordinal; 3) aloca-se em cada microrregião a quantidade produzida; e 4) com a distribuição acumulada da quantidade produzida determinam-se os quartis e os quartéis. Note-se que, agora, pode ficar no quartel superior (Q4) uma microrregião que pouco contribuiu para a quantidade produzida total, mas que tem alta densidade. Reciprocamente, uma microrregião que produziu uma quantidade importante, pode ficar no quartel inferior (Q1), porque ela tem uma área muito grande, o que resulta numa densidade pequena. O uso do conceito de densidade se justifica para auxiliar na determinação de aglomerados ("clusters") de microrregiões que, mesmo com áreas individuais pequenas, têm uma presença importante da cultura (por exemplo, no norte do RS).

A Tabela 13 apresenta, para cada ano estudado, a distribuição de freqüências de microrregiões por quartel de quantidade produzida, a partir do ordenamento das microrregiões por densidade de produção (t/km²), e os índices de assimetria e concentração obtidos. Nota-se que, em todos os anos, os números em Q2, Q3 e Q4 são maiores ou iguais que os números correspondentes na Tabela 8, e os de Q1 são menores que os da Tabela 8. Assim, mesmo que ainda exista uma alta concentração, em cada ano estudado, na coluna Q1, as concentrações das distribuições devem ser menores na Tabela 13 do que na Tabela 8. Pela propriedade de monotonia das distribuições da Tabela 13, o índice DOM funciona, também, como indicador de concentração, e é equivalente ao GINI; vê-se que, efetivamente, os três índices de concentração têm valores menores que os respectivos indicadores da Tabela 8. A composição do quartel 4 exigiu um número um pouco maior de microrregões na Tabela 13 do que na Tabela 8, em todos os anos, porém, todos pequenos, variando de 3,6%, em 1985, a 7,8%, em 2003, do total das microrregiões. Os valores dos índices de concentração não mudam muito, e os três indicadores mostram o mesmo sentido nas variações entre os anos estudadosos. Os maiores valores aparecem em 1985, quando há um número grande de microrregiões em Q1, e pouca mudança nos demais quartéis, o que assinala a entrada de microrregioes não-tradicionais, onde a presença da cultura é baixa, em termos de densidade. Os menores valores estão em 2003, e são determinados, essencialmente, pelo aumento relativo do número de microrregiões em Q4 e Q3; ou seja, algumas microrregiões que alcançaram altas densidades nesse ano, não contribuíram muito para a quantidade produzida total, e foi requerido um maior número para reunir 25, 50 ou 75% do total. A Tabela 13 mostra, por exemplo, que para reunir 50% da quantidade produzida, com base no ordenamento por densidade, foram suficientes 11 microrregiões em 1985, de um total de 138, enquanto que foram 18 em 2003, de um total de 115. A alta concentração de microrregiões no quartel 1 indica que a grande maioria das microrregiões com registro de cultivo de trigo apresentam baixa densidade de quantidade produzida; ou seja, a importância relativa da cultura é baixa considerando-se a área total da microrregião.

Na Tabela 14 são listadas as 10 microrregiões com maior densidade (t/km²), em cada ano estudado. Em 1975, nove microrregiões do RS e uma de SP apresentaram as maiores densidades, variando de 32,37 t/ km² em Não Me Toque - RS a 6,97 t/ km² em Passo Fundo - RS. Em 1985, a lista das 10 microrregiões com maior densidade foi composta por oito do PR, uma de SP e uma do RS. A microrregião com maior densidade foi Floraí - PR, com valor de 83,04 t/km², e a décima colocada foi Assaí - PR com valor de densidade igual a 28,68 t/km². Em 1995, houve predominância total das microrregiões do PR. Maringá foi a microrregião com a maior densidade (30,33 t/km²), e Porecatú a décima colocada (11,95 t/ km²). Em 2003, cinco microrregiões do RS e cinco do PR compuseram a lista das 10 com maior densidade. A densidade maior foi apresentada pela microrregião de Assaí - PR (81,73 t/km²), e a décima colocação por Cruz Alta - RS (39,52 t/km²). É relevante notar que as 10 maiores densidades obtidas pelas microregiões em 1985 e, principalmente, em 2003 foram bastante superiores aos valores observados em 1975 e 1995. Estas oscilações, seja de troca de microrregiões ou de valor do índice de densidade, devem estar diretamente relacionadas às condições climáticas do ano terem sido mais favoráveis ou menos favoráveis ao cultivo do trigo, durante o período de desenvolvimento da cultura.

Os valores obtidos para a distância de Cantor nas três comparações mostradas na Tabela 15, indicam que de 1975 a 1985 houve troca de 89% das microrregiões que compunham o grupo com as 10 maiores densidades. De 1975 para 1995, houve troca total das microrregiões nesse grupo e, de 1975 a 2003, a permuta de microrregiões caiu para 67% das microrregiões. Verificando-se os dados da Tabela 14, pode-se ver claramente como ocorreram estas mudanças.

Na Figura 7 é apresentada a distribuição espacial das microrregiões, por quartel de contribuição (Q4, Q3 e Q2) para a quantidade produzida total em 2003, a partir do ordenamento por densidade (t/km²) de produção de trigo observada. Nota-se que os três quartéis situam-se nas regiões norte-noroeste do RS e oeste-norte do PR. Comparando-se a distribuição espacial das microrregiões na Figura 7 com a da Figura 6, vê-se que o conjunto Q4+Q3+Q2, quando se usa o ordenamento por densidade, é bastante semelhante ao conjunto das microrregiões comuns a 1975 e 2003, que usou como base o ordenamento pela própria variável quantidade de trigo produzida. Também pode ver-se, por exemplo, que Dourados – MS, que estava na Figura 6, não aparece na Figura 7; mesmo com uma quantidade produzida expressiva, ela tem baixa densidade, o que a deixa em Q1 quando se usa o ordenamento por densidade.

Deve-se ter certa cautela na interpretação dos resultados desta seção, uma vez que, como usou-se a área total da microrregião e não a área agricultável da mesma, e considerando que o fato de uma microrregião ter uma área total elevada não garante que ela tenha uma área agricultável elevada, pode haver subestimação com respeito ao valor de um índice similar ao de densidade, mas de uso da terra. De todos modos, a densidade serve de ponto de partida para diversos exercícios de fatorização, nos quais, dependendo dos dados disponíveis, pode aparecer um fator que indica o uso da terra (por exemplo, área plantada dividida por área agricultável).

Evolução e dinâmica da produtividade

Nesta parte do estudo, foi utilizada a mesma técnica já usada anteriormente, com a diferença de que o ponto de partida foi o ordenamento das microrregiões pela produtividade (kg/ha), isto é, o quociente da quantidade produzida pela área colhida; a variável alocada nas microrregiões, para determinar os quartis e obter os quartéis foi a quantidade produzida. De modo que, por exemplo, pode aparecer no quartel superior (Q4) uma microrregião que contribui pouco para a quantidade produzida total, mas que, certamente, tem alta produtividade. Na Tabela 16, com base no ordenamento pela produtividade, são apresentadas, para cada ano estudado, as distribuições do número de microrregiões produtoras de trigo por quartel de quantidade produzida, o índice de dominância e os índices de concentração de Gini e de Theill. Inicialmente, deve ser feita a seguinte observação: o número total de microrregiões consideradas (TOTMIC), em cada ano, é um pouco menor que o número total das que têm algum registro de produção de trigo, mostrado em tabelas anteriores. De fato, o estudo da produtividade requer certos cuidados adicionais, para evitar alguns valores absurdos. O cuidado inicial refere-se a evitar alguns denominadores (no caso, área colhida) muito pequenos, que tendem a exagerar a produtividade. A técnica geral utilizada nesse sentido, em cada ano estudado, con respeito a diversos produtos da agricultura, consistiu no seguinte: 1) determinou-se o percentil de 5% (P5) sobre o conjunto de todas as microrregiões com registro de área colhida, mediante o procedimento UNIVARIATE do SAS; 2) eliminaram-se do estudo as microrregiões com área colhida menor que o máximo entre 5 ha e P5 ha. Por exemplo, se P5 = 8 ha, suprimiram-se as microrregiões com área colhida menor que 8 ha; se P5 = 3 ha, suprimiram-se as que tinham área colhida menor que 5 ha.

Observando, na Tabela 16, os valores das freqüências e dos índices de dominância e concentração, nota-se, o seguinte:

a) salvo no ano de 1985, não existe monotonia nas distribuições; portanto, não existe uma relação direta entre DOM e GINI, nos demais anos; de modo que DOM deve ser usado só como indicador de assimetria, nos outros anos; valores de DOM maiores que 0,5 indicam uma assimetria para a esquerda, que é acentuada em 1985 (Q1 = 77, de um total de 132 microrregiões), e muito mais fraca em 1995 e 2003; em 1975, DOM < 0,5, o que indica uma assimetria para a direita (em particular, a freqüência Q4 é maior que a Q1); em todos os anos, o valor de DOM é muito mais baixo que o correspondente na Tabela 8, o que reflete o fato de que as freqüências relativas de Q1, na Tabela 16, são bem menores que as respectivas freqüências relativas na Tabela 8;

b) os valores dos índices de concentração são muito mais baixos que os dos respectivos indicadores na Tabela 8; ou seja, as distribuições da Tabela 16 estão muito mais próximas da distribuição uniforme;

c) os valores relativamente altos das freqüências no quartel superior (Q4) indicam que, em cada ano, houve um número expressivo de microrregiões que, embora tivessem um valor de produtividade elevado, apresentaram baixo percentual de contribuição individual em relação à quantidade total produzida.

Na Tabela 17 são identificadas as 10 microrregiões com maior produtividade de trigo (kg/ha), em cada ano estudado, com sua respectiva produtividade. Em 1975, cinco microrregiões do estado de SP constavam da lista das mais produtivas, sendo que quatro delas ocuparam as primeiras colocações. Completaram a lista mais duas microrregiões do PR, duas do RS e uma de SC. Nesse ano, as 10 maiores produtividades variaram de 1.497 kg/ha a 1.132 kg/ha. Em 1985, das microrregiões listadas em 1975 permaneceu apenas a de Porecatú - PR. A microrregião de Meia Ponte - GO apresentou a maior produtividade, com 3.960 kg/ha, e a de Ituverava - SP foi a décima colocada, com 2.339 kg/ha. Examinando a lista das 10 microrregiões mais produtivas no ano de 1995, vê-se que ela não possui nenhuma das que estavam na lista em 1975; portanto, houve uma mudança total de microrregiões com relação à produtividade e, também, um aumento considerável na magnitude das produtividades obtidas. A maior produtividade, em 1995, foi de 5.349 kg/ha, obtida pela microrregião de Catalão – GO, e a décima maior foi de 2.461 kg/ha, obtida pela microrregião de Bragança Paulista - SP. Em 2003, os valores de produtividade apresentados pelas 10 microrregiões mais produtivas foram mais expressivos ainda, variando de 5.402 kg/ha, a mais alta, até 4.750 kg/ha, a décima colocada. Novamente, nenhuma das 10 microrregiões listadas em 2003 aparecia em 1975. Em geral, o aumento de produtividade das 10 microrregiões mais produtivas, em cada ano, foi constante de 1975 a 2003. Em 1975, só apareceram na lista microrregiões das regiões Sul e Sudeste; em 1985, oito microrregiões eram das regiões Sul e Sudeste e duas da região Centro-Oeste; em 1995, a região Centro-Oeste participou com quatro microrregiões e as regiões Sul e Sudeste com seis; finalmente, em 2003, uma microrregião foi da região Nordeste (BA), três foram do Sudeste (MG), e seis do Centro-Oeste (GO, DF). A explicação para estas mudanças locacionais e o aumento de produtividade deve estar ligada ao fato da região Centro-Oeste cultivar trigo sob irrigação, e o mesmo deve acontecer em Seabra – BA.

Na Tabela 18, os valores da distância de Cantor avaliam as mudanças radicais ocorridas, com relação à presença das microrregiões na lista das 10 mais produtivas, entre o ano inicial e o ano final de cada período estudado.

Na Figura 8 são mostradas as microrregiões que compuseram os quartéis 4, 3 e 2, de quantidade produzida, a partir do ordenamento pela produtividade de trigo. Vê-se que o conjunto dos três quartéis é composto por microrregiões localizadas desde a região Sul até o Centro-Oeste e a Bahia, no Nordeste. No caso do quartel 4, que contém as microrregiões de maior produtividade e que, em conjunto, perfazem 25% da produção, há uma maior aglutinação nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, nas proximidades de Brasília, embora contenha, também, várias microrregiões da região Sul (centro-sul e norte-central do PR, serrana de SC e sul do RS) e uma do Nordeste, na Bahia. O quartéis 2 e 3, conforme o mapa apresentado, são compostos, em sua maior parte, por microrregiões da região Sul.

Centros de gravidade

A Tabela 19 relaciona as microrregiões, e suas respectivas latitudes e longitudes, onde foram localizados os centros de gravidade determinados para o trigo, no Brasil e para cada quartel de quantidade produzida, nos anos estudados; os quartéis são os que resultaram a partir do ordenamento pela própria quantidade produzida (Tabela 8). Em 1975, em termos de Brasil, o centro de gravidade estava na microrregião de Frederico Westphalen, no RS, e nos demais anos esteve localizado no estado do Paraná, nas microrregiões de Cascavel, em 1985, de Guarapuava, em 1995, e de Pato Branco, em 2003. De certa forma isso era o esperado, em função da área de cultivo de trigo no Brasil estar estabelecida da região Sul até a região Centro-Oeste, havendo maior intensidade de cultivo, inicialmente, no estado do Rio Grande do Sul e, posteriormente, no estado do Paraná. Examinando a localização dos centros de gravidade dentro dos quartéis, vê-se que, em 1975, os dos quartéis 4, 3, 2 e 1 estavam, respectivamente, nas microrregiões de Santiago - RS, São Miguel d’Oeste - SC, Chapecó - SC e Palmas – PR. Nos demais anos estudados, com exceção de 1985, no caso do quartel 2, em que o centro de gravidade foi localizado em Chapecó - SC, todos os demais localizaram-se em microrregiões do estado do Paraná, o que confirma a importância que este estado assumiu na produção nacional de trigo a partir da década de 80. Além disso, apesar de que a região Sul produz cerca de 90% do trigo nacional (Tabela 4), a participação das regiões Sudeste e Centro-Oeste se faz sentir no cálculo dos centros de gravidade, em virtude das distâncias terrestres envolvidas. Isso tende a colocar os centros de gravidade um pouco mais ao norte do que poderia ser imaginado, quando se pensa somente em termos de regiões tradicionais.

Na Tabela 20, são apresentadas as distâncias terrestres determinadas entre os centros de gravidade, para o Brasil e para cada quartel, nos períodos estudados. Para obter essas distâncias foi utilizado um programa de cálculo geodésico. De 1975 para 1985, o deslocamento do centro gravidade, relativo ao Brasil, foi de 272 km, de 1985 para 1995, 58 km e, de 1995 para 2003, 74 km. No mapa apresentado na Figura 9 vê-se que o primeiro deslocamento, o maior, deu-se no sentido norte, ou seja, do RS para o PR. Já o segundo, 1985-1995, foi no sentido leste e o terceiro, no sentido sul, o que explica o fato da distância do período 1975-2003 (201 km) ser menor que a de 1975-1985 (272 km). Isto concorda com o "retorno" para o Sul, já mencionado. Observa-se que os deslocamentos entre o ano de 1975 e os demais foi superior a 200 km; no entanto, entre os anos de 1985 – 1995 –2003 estes deslocamentos foram inferiores a 100 km, indicando uma possível estabilidade na área de abrangência de cultivo de trigo.

Examinando os deslocamentos ocorridos nos centros de gravidade dos quartéis, fixando-se nos intervalos 1975-1985, 1985-1995 e 1995-2003, constata-se que as maiores distâncias foram observadas no quartel 4, seguido do quartel 3. Pode-se ver que os deslocamentos dos centros de gravidade aumentaram gradativamente do quartel 1 ao quartel 4 (com exceção do caso de Q1 para Q2, no período 1995-2003). Os menores deslocamentos dos centros de gravidade registrados nos quartéis 1 e 2, que têm os maiores números de microrregiões, confirmam o fato, já expressado, em outros termos, nas análises de área de trigo colhida e quantidade de trigo produzida, de que há um vasto conjunto relativamente estável de microrregiões com registro de produção de trigo ao longo do período estudado. Por exemplo, observando os dados da Tabela 10, no período 1975 – 2003, na coluna A (parte persistente), e subtraindo o número no grupo 50% (Q4+Q3), isto é, 7, do número no grupo 100%, isto é, 92, tem-se que Q1+Q2 contém 85 microrregiões persistentes (além de algumas de 1975 que saíram, e outras que entraram em 2003, todas com baixa quantidade produzida). Mesmo que suas massas (quantidades produzidas) mudem um pouco, ao longo do período, os centróides das microrregiões persistentes não mudam, o que resulta na baixa mobilidade dos centros de gravidade de Q1 e Q2. Em resumo, em termos gerais, quanto mais alto é o quartel mais alta é a mobilidade de seu centro de gravidade.

Na Figura 10, pode-se ver a localização dos centros de gravidade de cada quartel de quantidade produzida, nos anos de 1975, 1985, 1995 e 2003. Com relação ao quartel superior (Q4), vê-se que o seu centro de gravidade estava situado na região noroeste do RS, em 1975, deslocou-se para o noroeste do Paraná, em 1985, teve um leve deslocamento para o centro do PR, em 1995, e localizou-se no sul do PR em 2003. De certa forma, apresentou um deslocamento semelhante ao do centro de gravidade geral apresentado na Figura 9. O centro de gravidade do quartel 3 também apresentou um deslocamento semelhante, indo do Sul de SC (divisa com RS), em 1975, para a região noroeste do PR, em 1985, deslocando-se um pouco, em 1995, para o centro do estado do PR, e descendovoltando, em 2003, para a região sul do Paraná. O deslocamento do centro de gravidade do quartel 2 foi constante na direção norte, porém de curta distância, saindo da região sul de SC, em 1975, e chegando à região sul do PR, em 2003. O centro de gravidade do quartel 1 esteve localizado dentro do estado do Paraná nos quatro anos estudados: na região sul do estado em 1975, 1985 e 1995 e no centro do estado, em 2003.


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